As comemorações do Sete de Setembro vieram caminhando, ano após ano, para se restringirem aos desfiles de tropa e equipamentos militares, ainda que imponentes. Salvo, ocasionalmente, assiste-se à participação de escolas e entidades de origens diversas. Ideal que o dia pudesse contar com uma participação civil mais ampla, representados os diversos segmentos da nacionalidade. Porque essa é uma das raras datas em que não devem caber diferenças políticas ou ideológicas, republicanas ou monarquistas. O ideal da independência, pelo que se conquistou e pelo que ainda é preciso conquistar, transcende divergências, e mesmo acima do fato histórico, porque é um ideal permanente. Parece, contudo, que tal sentimento se perdeu no espaço; algo superado. Para muitos, um assunto até piegas.
As comemorativas ficaram limitadas, exatamente por se contentarem com o grato episódio de 1822, quando o Brasil se desvencilhou das imposições da Corte portuguesa. Mas a independência, como se faz demonstrar no cotidiano, é uma luta perene, que não se extingue. Melhor definindo, obra de vinte e quatro horas, para repetir o que disse o poeta Vinícius sobre o amor. Qualquer amor, a começar pelo que é devido à nacionalidade, sem a exclusão da reciprocidade: o amor de cada cidadão ao seu país, e o que dele todos têm direito de esperar.
Serem livres, mais felizes a cada dia, libertos das angústias e dos temores, é o que almejam todos os povos; e para tanto são chamados a uma luta que não pode cessar frente a um mundo de imperfeições. Não diferentemente o Brasil, onde ainda temos degraus a galgar rumo ao ideal. Também aqui é preciso continuar caminhando e avançando, se quisermos chegar àquela ampla independência, que, no dizer de Nélson Mandela, é incompleta, fica parecendo concha vazia, se nela sobra fome e faltam saúde e educação. É na observância desse conteúdo que residem os desafios de uma peleja constante e atenta, para sermos o povo completamente independente. Em benefício de todos, não um direito restrito a poucos.
Sendo assim, se nos libertamos do jugo colonialista, isso já passados 196 anos, o mesmo não há como celebrar frente a outros tipos de dependência que infelicita uma sociedade sucumbida ao crime banalizado, à fome agravada, à saúde pública que periclita; uma educação longe do melhor. Se já não somos mais dependentes de um povo estrangeiro, caímos escravos de nossas próprias carências. Precisamos de um novo Ipiranga. Menos margens plácidas e mais brados retumbantes.
Mas, afora frustrações e anseios, sem negar sua importância mesmo em dia de festa, há também um detalhe a chamar atenção, quando este Sete de Setembro indica estar o país a um mês para eleger seus novos governantes. Sem eles, se não forem qualificados e corajosos, não será possível subir mais alguns degraus na escada que o Brasil tem pela frente. A via menos tortuosa que se abre é o voto consciente; uma delegação de poder ao candidato que parecer o melhor para conduzir. O voto, se livre e fecundo, é o primeiro instrumento da vontade. Quando anulado, fruto do concubinato entre raiva e desesperança, faz muito mal às liberdades conquistadas ou a conquistar.
Os brasileiros gozam, hoje, do direito de decidir o destino que lhes parecer o melhor; uma conquista há quase dois séculos começada, que pode ser valorizada com a participação da cidadania livre. Já é muito, como pode atestar quem viveu tempos de urnas condenadas ao silêncio das ditaduras.
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