sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Nem à bala, nem à faca

A espiral de ódio e intolerância que vem se adensando desde 2013 tinha que dar nisso. O atentado contra o candidato do PSL, Jair Bolsonaro - afora o repúdio geral que mereceu, inclusive dos concorrentes - cobra resposta rápida, convincente e clara das autoridades. Não pode ficar inesclarecido como aquele que foi perpetrado a tiros, em março, contra a caravana do ex-presidente Lula. Atentados desta natureza, não importa a cor ideológica da vítima, atingem o processo eleitoral e a própria democracia. Eleitoralmente, é cedo para prever seu efeito. Poderá fortalecer e ampliar a onda de seguidores de Bolsonaro como favorecer também a moderação, fazendo prevalecer o entendimento de que os problemas não podem ser enfrentados nem à bala nem à faca. 
As primeiras informações sobre o agressor, Adélio Bispo de Oliveira, sugerem tratar-se de pessoa com transtorno psicológico, que disse ter agido “a mando de Deus”. Mas é preciso um esclarecimento cabal, que impeça a proliferação de especulações como as que se viam ontem nas redes sociais e nos comentários de leitores ao noticiário em tempo real. Muitos registros foram na linha “colheu o que plantou”. Afinal, Bolsonaro diz que “violência se combate com violência”, costuma simular o ato de atirar com crianças e no sábado prometeu “fuzilar a petralhada”. Nem por isso, deve ser menor o repúdio. Outros internautas acusavam abertamente a esquerda e outros ainda sugeriam que o atentado pode ter sido uma simulação, ou um fogo amigo, para transformar Bolsonaro em vítima.
Para conter especulações como estas, que só servem para atiçar o ódio, a polícia precisa ser rápida no esclarecimento das motivações do agressor. Descobriu-se ontem que Bispo de Oliveira foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014. Talvez tenha passado pelo PDT. Mas não podem os partidos responder por atos de quem um dia foi filiado. Importante é descobrir se agiu só e com que motivação.
Felizmente, o agressor foi malsucedido e o estado de Bolsonaro, no início da noite, era estável, depois de uma cirurgia e uma transfusão de sangue. Ao contrário do que circulou inicialmente, ele correu risco, sim. Perdeu muito sangue e chegou com uma bradicardia ao hospital. O episódio não pode permitir maior envenenamento de uma campanha já marcada pelo impedimento judicial do candidato favorito, e na qual até o presidente em exercício mete a colher, fustigando candidatos com vídeos. O Brasil precisa muito destas eleições para sair do atoleiro institucional trazido pelo impeachment, que agravou também a situação econômica, que já era ruim com Dilma. Para que a travessia seja exitosa, elas precisam ser livres, pacíficas e limpas.
As balas de Temer
O vídeo de Michel Temer contra Geraldo Alckmin pode ser resumido com uma paródia do refrão da campanha de Lula e Haddad: Temer é Alckmin, Alckmin é Temer. Por mais impopular e rejeitado que Temer seja, a letalidade do vídeo é grande, ao mostrar que a coligação eleitoral do tucano é a mesma coalizão partidária que fez o impeachment e formou a base do atual governo. Os adversários vão explorar com gosto. 
O segundo tiro de Temer foi no futuro candidato do PT, Fernando Haddad, rebatendo críticas à reforma trabalhista. Nesta batida, seu próximo alvo pode ser o candidato do MDB, Henrique Meirelles, que não tem agido como defensor do governo, conforme acertou com Temer. Na pré-campanha, a turma do presidente garantia: o governo vai ter candidato para defender seu legado. Não tem. Candidato algum topa carregar governo moribundo.
A passagem
Como era previsível, os recursos do PT contra a inabilitação de Lula vão sendo rejeitados na Justiça. E a transição já começou, com Haddad praticamente falando como candidato no programa de ontem, o que voltará a fazer amanhã. Na terça-feira haverá a passagem do bastão, no ato de Curitiba, com a leitura da carta de Lula. E só então valerá medir a transferência de votos, que a pesquisa Ibope, como foi feita, não aferiu.

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