Michael, um furacão de força 4, chegou em fúria à costa da Flórida, nos Estados Unidos, com ventos de mais de 200 km/h. Foi o segundo da temporada; em setembro, o ciclone Florence já havia inundado cidades na Carolina do Norte e estados vizinhos.
Numa coincidência eloquente, na mesma semana veio a lume um novo e sombrio relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês). O estudo, elaborado por dezenas de cientistas de vários países, foi apresentado na Coreia do Sul.
Trata-se de um relatório especial, diferente das abrangentes publicações sobre trajetórias da mudança do clima que o IPCC compila a intervalos de cinco ou seis anos (o próximo deve vir em 2022). No caso, o objetivo era avaliar as diferenças entre um aquecimento na atmosfera de 1,5ºC e outro de 2ºC.
Os dois limiares figuram no Acordo de Paris (2015), que lista o segundo como meta a não ser ultrapassada, pois os climatologistas predizem que os impactos seriam excessivos e talvez incontroláveis.
A barreira de 1,5ºC, por sua vez, aparece no tratado como algo preferível do ponto de vista dos riscos e custos a serem enfrentados por sociedades e governos.
O novo documento indica que esse limiar de prudência está para ser ultrapassado logo, possivelmente ainda em 2030, e com certeza até os anos 2050.
Restariam, assim, poucas décadas para zerar as emissões de gases do efeito estufa no planeta, o que exigiria uma revolução nos setores de energia e transportes. Mais provável, a julgar pela persistente trajetória atual, é transpor-se a marca dos 2ºC.
A projetada elevação do nível do mar viria então 10 cm maior que na hipótese de 1,5ºC. Parece pouco, mas seria devastador para países insulares do Pacífico e criaria desafios ainda mais urgentes —e custosos— para cidades costeiras que precisariam dar conta de ressacas e inundações ainda piores.
Por seu trabalho na orientação de governos, o IPCC recebeu com o americano Albert Gore o Nobel da Paz de 2007. Neste 2018, a láurea de Economia foi para as mãos de William Nordhaus e Paul Romer, que dedicaram décadas ao estudo dos impactos do clima na economia e ao papel da tecnologia na sustentabilidade.
Com 11 anos de intervalo, os dois prêmios atestam o reconhecimento que o tema da mudança climática conquista na pauta de políticas públicas mundo afora —com notáveis exceções, como os EUA sob Donald Trump, e um Brasil atolado na polarização política.
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