Em um ponto em que os analistas não fazem convergir suas previsões sobre os efeitos das últimas semanas da campanha eleitoral, e sua maior ou menor intensidade para influir no destino dos candidatos à Presidência da República, figura a possibilidade de eles chegarem lá abalados por notáveis índices de abstenção e votos nulos; são os votos que interpretam o descontentamento popular com a classe política.
Os mais pessimistas acham que, além de o número de descontentes continuar elevado, pode mesmo se ampliar, se essa massa eleitoral concluir que nenhum dos candidatos teria como colocar o país nos eixos.
Ante a possibilidade de persistir o grande contingente disposto a ausentar-se, não indo às urnas, ou, se for, anular o voto, há um dado paralelo a ser considerado; e é aconselhável que seja levado na devida conta.
Trata-se da influência que as pesquisas de última hora tendem a atingir esse cidadão que veio traçando o perfil de desencanto. Quando realizada, sob esse clima em que, felizmente, a maioria mostra-se disposta a participar, ela pode conter ou derrubar, se não o voto nulo, pelo menos boa parte das disposições ao abstencionismo. Há experiências que permitem admitir como possível tal influência. Alguns povos, como os franceses, atestaram, antes de estabelecerem limites para a divulgação dessas previsões.
Dando-se o mesmo no Brasil, no pleito que teremos dentro de um mês, algum entre os candidatos estaria em melhores condições para beneficiar-se disso? Uma pesquisa influente ajudaria mais os que vêm sendo expostos como favoritos, ou, pelo contrário, seria sopro de esperança para quem amarga um dígito?
Difícil a definição, até porque analistas há que sustentam a seguinte observação: os brasileiros que hoje não querem votar, é porque descreram exatamente dos mais conhecidos, veteranos concorrentes, suficientemente julgados pelo que já fizeram ou deixaram de fazer. Assim, na eventualidade de o eleitor rever o desejo da omissão, com certeza ficaria com um dos nomes de chances limitadas. Não deixaria de cumprir o dever, mas não daria endosso a quem tem real chance de ganhar. É o cidadão que não vai abrir mão de manter reservas aos bem-sucedidos na política nacional. Seria lógico?
A observação pode parecer simplista, e realmente o é. Mas qualquer processo eleitoral se presta a demonstrar que considerável parcela da população admite influenciar-se pelas pesquisas de última hora; em muitos casos, não apenas para se sugestionar, mas também ser induzida.
Mesmo que não tenham força suficiente, neste 2018, para sensibilizar tantos descrentes, que de tão numerosos chegam a assustar, os institutos de consultas, de alguma forma, conseguem sensibilizar uma sociedade, quando esta é chamada a tomar decisões importantes. Trabalhando em bases científicas, podem instar o eleitor a aceitar um produto político, da mesma forma como fazem a mulher grávida confiar mais nas embalagens vermelhas. Não se menospreze, portanto, a boa conversa aplicada ao eleitor.
Quando a legislação brasileira passou a admitir pesquisas em véspera da convocação às urnas, ampliou-se o contingente dos que vinham advogando certos limites para a publicação desses trabalhos de previsão, tal como, em exemplo, outros países que só a admitem com três ou quatros dias de antecedência, exigindo-se, em alguns casos, distância de uma semana. Sempre fracassou o argumento de que a divulgação, tanto dos favoritos, como dos improváveis, exerceria influência antidemocrática e violência sobre os desinformados e instáveis. Na verdade, o que pode prevalecer, ainda que inconscientemente, é o direito de o eleitor deixar-se influenciar. Se for para o bem, melhor para ele e para todos.
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