A corrida ao Palácio do Planalto atrai a maior parte das atenções da campanha eleitoral, o que, em boa medida, é compreensível —vivemos num sistema presidencialista.
Entretanto poucas vezes o peso decisivo do voto para o Congresso Nacional se mostrou tão evidente como agora. O país vive as consequências traumáticas de um descompasso entre Executivo e Legislativo, materializado no segundo processo de impeachment em pouco mais de três décadas de restabelecimento da democracia.
Não há, provavelmente, demonstração mais cabal da extensão das prerrogativas legais de deputados e senadores; mesmo sem recorrer a exemplo tão radical, a experiência brasileira não deixa dúvida quanto à relação entre alianças parlamentares e capacidade de governar.
Ao mesmo tempo, ficam escancaradas as deficiências do modelo nacional para a escolha dos legisladores —cuja característica mais proverbial é o afastamento, quando não esquecimento mútuo, entre representados e representantes.
Foi com o objetivo de responder a tais distorções que esta Folha lançou, em sua plataforma digital, uma ferramenta destinada a permitir que eleitores encontrem postulantes com pensamento e prioridades mais semelhantes às suas.
Batizado de Match Eleitoral, o instrumento, desenvolvido com apoio do Datafolha, apresenta 20 perguntas sobre preferências do usuário. Com base nas opções assinaladas, apontam-se os candidatos a deputado federal por São Paulo que preencheram o questionário de maneira condizente.
Convém recordar, com números, a complexidade da tarefa imposta ao votante paulista, replicada no restante do país. Existem cerca de 1.600 concorrentes às 70 vagas reservadas ao estado na Câmara; esse contingente está distribuído entre mais de 30 partidos, a maioria de escassa unidade ideológica.
Os recursos tecnológicos atuais, felizmente, tornam menos árdua a decisão em meio a tal barafunda. Não se pode prescindir, porém, de reformas do modelo eleitoral.
O voto proporcional em lista aberta tem a vantagem de oferecer ampla variedade de opções ao eleitorado. Na versão brasileira, os defeitos mais claros são o excesso de legendas e a mixórdia de coligações entre elas —que tornam fato corriqueiro sufragar um candidato e acabar elegendo outro, de orientação inteiramente diversa.
Aperfeiçoamentos recentes na legislação tendem a atenuar esses problemas, mas cabe ir além.
No entender deste jornal, parte dos deputados deveria ser eleita em disputas distritais, em que cada local definiria seu representante.
Em qualquer modalidade, a escolha bem informada permanecerá crucial —inclusive e não menos importante, para o posterior escrutínio do mandato parlamentar.
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