domingo, 2 de setembro de 2018

O jogo recomeça

“Contra a cassação política, com Lula até o fim”, disse o PT em nota, após o TSE tirar Lula da eleição na madrugada de sábado. Suas trombetas continuarão denunciando a perseguição a Lula, mas a razão eleitoral também vai se impor, e ela diz que quanto mais cedo Fernando Haddad tornar-se candidato oficial, melhor para a transferência de votos. O PT ainda pedirá uma liminar ao STF, mas não deve esperar parado. Na reunião com Haddad amanhã em Curitiba, Lula deve bater o martelo. Ele sempre disse que deviam ir com seu nome até onde desse, e agora não dá mais. Com Haddad candidato, a disputa muda de fase.
A decisão do TSE foi mais uma manifestação da tirania da Justiça sobre a política, que precisa ser registrada com insistência para que possa ser contida. Foi tirania o atropelo dos prazos e a torção na lei para obter o resultado na data crucial, à véspera da veiculação dos programas eleitorais, dos quais o PT se valeria, com Lula na tela, para buscar a transfusão de votos. A Justiça deve mirar o direito, não a tática eleitoral. Louvei aqui o bom senso do TSE, quando divulgou, na noite de quinta-feira, a pauta da sessão de sexta sem referência ao caso Lula. Sinal de que seria observado o prazo de cinco dias para alegações finais. Eis que na manhã seguinte o ministro Barroso arrancou da presidente Rosa Weber a inclusão da matéria na última hora. Ela confessou no ar que preferia ter esperado o dia 6, mas sucumbiu.
Barroso torceu a lei, na parte que garante a candidatos sub judice aparecer em programas eleitorais e praticar todos os atos de campanha. Enquanto puder recorrer, um candidato está sub judice. Lula poderia e ainda vai recorrer ao STF. Mas, para barrar o acesso de Lula à TV já no sábado, Barroso decidiu que a última instância, no caso, era o TSE. Depois, no escurinho, longe da câmara, acertou com os pares a mitigação do exagero, permitindo a veiculação do que já estava gravado, mas sem Lula.
A nova fase
Com a degola antecipada, o PT terá que ajustar sua tática. Não contará mais com os programas em que Lula apareceria como candidato, tendo Haddad como vice. Isso facilitaria o transplante de cabeças na chapa, com imagens claras e compreensíveis. Mesmo cassado, Lula ainda poderá aparecer como apoiador, ocupando até 25% dos 2m23s do programa do partido. Mas terá gravado vídeos pedindo explicitamente que votem em Haddad?
Lula não aparecerá mais nas pesquisas e Haddad terá que engordar rapidamente seus índices. O último Datafolha apurou que 31% dos eleitores votariam no indicado por Lula, mas 48% não fariam isso. Terá que consolidar o primeiro. Precisa conquistar o Nordeste com seu oceano de votos lulistas.
Até aqui, os concorrentes deixaram o PT meio de lado. Candidato, Haddad será atacado na medida em que crescer. Geraldo Alckmin deve reservar-lhe parte do fogo que preparou para Bolsonaro. Haverá campanha negativa, com exumação do mensalão e do petrolão. Tentarão responsabilizar apenas o segundo governo Dilma pelo descarrilamento da economia que foi tão agravado no governo Temer. Haverá histeria no mercado, embora Haddad venha seduzindo alguns segmentos que, embora preferindo Alckmin, já veriam no petista melhor alternativa a Bolsonaro. Reconhecem que ele dialoga e tem compromisso fiscal, embora não prometa as reformas liberais desejadas.
Os outros vão ajustar o jogo e podem ocorrer deslocamentos no eleitorado. Os que votam em Bolsonaro porque odeiam o PT, por exemplo, vão se manter com ele, ou diante do risco de uma derrota no segundo turno refluirão para Alckmin, que teria mais forças para barrar o petista com apoio da extrema-direita? Na esquerda, podem surgir movimentos de voto útil já no primeiro turno, prejudiciais a Ciro Gomes e a Boulos.

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