domingo, 9 de setembro de 2018

Guerra aberta à intolerância

O dramático episódio da agressão ao deputado Jair Bolsonaro, que quase o leva à morte, expôs à opinião pública um fato lamentável, com dois desdobramentos, que logo se fazem sentir e precisam ser avaliados. O primeiro é a violência contra uma pessoa na disputa da Presidência da República, e de quem se pode discordar, sem que isso torne admissível agredi-lo. O segundo ponto que se desdobra do incidente é que aquela faca feriu não só o candidato, mas a própria democracia, de cujas franquias naquele momento ele se valia, pregando seu projeto para a primeira magistratura do país. O que leva a considerar, ausente qualquer ressalva, que não foi um golpe com apenas uma vítima.
Todos saíram lesionados daquela estreita rua mineira. E fizeram bem os adversários de Bolsonaro em repudiar logo a agressão, mesmo que alguns até possam tirar proveito de sua ausência, que acabava de aparecer liderando pesquisas.
Este jornal, que se sente no direito de discordar de propostas do candidato do PSL, a forma como as expõe, e, principalmente, como pretende implementá-las, defende, com igual vigor, que se dedique respeito e liberdade de expressão a ele, como a todos os participantes do pleito seguinte, que se afigura entre os mais importantes dos últimos tempos. Ao deputado, portanto, é dever do governo e de todos os cidadãos assegurar plenas garantias para dizer o que quer e o pretende fazer, se vier respaldado pelas urnas do dia 7. Ideia se combate com outra ideia. Fora disso não teremos salvação. 
Os atos de extremismo levam a nada, e é deplorável que um ato irresponsável, como esse que se viu em Minas, contribua para, alastrando-se, colocar o Brasil sob ameaça de figurar entre os países que passam por pesadelos desse tipo, com maior ou menor gravidade; países onde idênticas facas, bombas e tiros vão escrevendo páginas de terror, seja nas escolas americanas, nas estações asiáticas ou nos metrôs e casas de show europeus.
Atitudes dessa natureza devem merecer o mais veemente repúdio, como acabam de recomendar os presidentes do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal e da OAB. Algo inadmissível, sem exceção para qualquer caso, muito menos quando se tratar de intolerância em campanha eleitoral.
O candidato Jair Bolsonaro tem preferido assumir um modelo de campanha que se caracteriza por polêmicas acaloradas, advoga medidas radicais na solução dos problemas, o que o leva, a um só tempo, a ser amado e odiado. Não traz ele o perfil dos que pensam no centro; e, portanto, impetuoso, facilmente apaixona os adeptos e irrita os adversários. Recomendáveis, portanto, garantias quanto à sua integridade, a começar com sua própria colaboração, como também em relação aos demais, porque é farta a safra dos loucos, que em época de eleição são capazes de prosperar com furor. Como se viu em solo mineiro.
Registre-se, como consolo, para o candidato convalescente e para o espírito pacifista dos brasileiros, aquelas muitas vozes autorizadas que condenam o crime e qualquer outra agressão que se pratique sob inspiração da intolerância em relação a diferenças; se repugna quando humilha raças e minorias, não menos grave quando se investe contra os que pensam de forma diversa. Infringir esse princípio seria escolher o caminho certo para solapar a democracia. Quem haveria de admitir tamanha aberração, se sabemos nós como foi difícil retomá-la?
A livre prática da política, com diferenças e contendas, é a grande obra democrática; políticos e candidatos podem ser seus artífices, independentemente do que pensam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário