SÃO PAULO
Na primeira entrevista que concede desde que sofreu um atentado a faca há duas semanas, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL)defendeu seu guru econômico, Paulo Guedes, que criou polêmica ao defender uma espécie de CPMF (o chamado imposto do cheque) em palestra.
"O Paulo segue firme", disse, sobre boatos de que ele poderia se afastar da campanha após cancelar uma série de eventos em que falaria sobre seus planos para a área econômica. "Posto Ipiranga" de Bolsonaro para a área, o economista já foi anunciado como ministro da Fazenda em caso de vitória do atual líder da corrida ao Planalto.
Segundo o candidato, Guedes nunca defendeu a volta da CPMF, que esteve em vigência de 1997 a 2007. "Isso é uma distorção. Ele apenas está estudando alternativas. Tudo terá de passar pelo meu crivo", afirmou.
Bolsonaro falou por breves quatro minutos ao telefone com a Folha de seu quarto no hospital Albert Einstein, onde se recupera de duas cirurgias. "Foi barra pesada. Eu quase morri, estou aqui por um milagre. Mas estou bem, meu bom humor voltou", disse.
Ele tentou minimizar o mal-estar que a fala de Guedes criou na sua campanha. "Olha, ele não tem experiência política. O cara dá uma palestra de uma hora, fala uma coisa por segundos e a imprensa cai de porrada nele", disse, em referência à simplificação tributária e à alíquota única de 20% do Imposto de Renda para quem ganha mais de cinco salários mínimos, feita em uma palestra a investidores e revelada na quarta (19) pela colunista Monica Bergamo, da Folha.
"Se ele usa a palavra IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e não CPMF, não tem confusão nenhuma. Parece uma boa ideia, vamos estudar. A alíquota única do IR para quem ganha mais é uma boa ideia", afirmou ele. Sua voz, muito debilitada no vídeo divulgado por seu filho Eduardo no domingo (16), estava praticamente normal, apenas um pouco rouca.
Guedes conversou nesta sexta (21) com Bolsonaro por telefone e irá visitá-lo no Einstein neste sábado.
Questionado, o presidenciável acabou não comentando a outra polêmica da semana, que foi o movimento para tutelar as falas e a presença do seu vice, o general Hamilton Mourão (PRTB). Na segunda, ele havia sugerido que lares pobres "sem pai e avô" são "fábricas de desajustados" para o narcotráfico.
Até aqui, o deputado só havia se manifestado por meio de vídeos gravados. "Eu cumpro rigorosamente as ordens médicas. É impossível eu ir para a rua ou participar de debates antes do primeiro turno. Vou fazer participações pela internet", disse. Seus filhos, que tocam a campanha em sua ausência, haviam levantado publicamente a hipótese de Bolsonaro participar do último debate televisivo antes do pleito, no dia 4, na Rede Globo.
"Acho que terei alta nos próximos dias, mas continuo com muito antibiótico", afirmou.
Ele se queixou bastante da campanha do PSDB, que vem batendo duro em sua imagem na propaganda eleitoral gratuita. "Vejo com muita tristeza o Geraldo Alckmin, uma pessoa em quem eu já votei. Ele pegou pesado. Eu não esperava isso dele, mas a verdade é que ele não é diferente do PT", disse.
"Eu não tenho tempo para rebater esse festival de baixaria. Podia perguntar da merenda, da obra do Rodoanel, da Odebrecht", disse, elencando denúncias contra a gestão do tucano, ex-governador de São Paulo. "É covardia do Alckmin."
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