quinta-feira, 23 de agosto de 2018

MPF-AM entra com ação para garantir atendimento adequado de saúde em Guajará

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública para garantir atendimento adequado de saúde básica no município de Guajará, localizado a 1,4 mil Km de Manaus. Na ação, o MPF pede que a Justiça Federal determine à União e ao município de Guajará a apresentação de um plano para adequação do serviço, que inclua a cobertura de atendimento a moradores da sede do município e da zona rural, no prazo de seis meses.
O município de Guajará está situado no extremo sul do Estado do Amazonas, com população de 16.339 habitantes, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com mais de 7,5 mil quilômetros quadrados de área, o município tem quase metade da população localizada na zona rural, em cerca de 90 comunidades de difícil acesso, tanto por via terrestre quanto fluvial.
Guajará conta com um hospital, três unidades de atenção primária e um núcleo de apoio à saúde da família em funcionamento, com cinco equipes de saúde da família que não atendem a área rural, segundo informações prestadas pela própria prefeitura.
Conforme o MPF, inspeções realizadas em 2015 e 2017 apontam que os dois postos de atendimento à saúde instalados na zona rural estão inoperantes.
O G1 não conseguiu contato com a prefeitura de Guajará.

Vistoria

Em visita à Comunidade do Gama, distante cerca de 30 quilômetros da sede do município de Guajará, em 2015, o MPF constatou que a unidade básica de saúde lá instalada funcionava quase que exclusivamente para o controle da malária, doença endêmica na região, não possuindo insumos e equipe permanente com profissionais da saúde habilitados para a realização de atendimentos primários aos mais de 400 comunitários.
Segundo o MPF, a farmácia da unidade de saúde estava vazia, sem insumos ou medicamentos primários. Na ocasião, o órgão foi informado que a última remessa de medicamentos à comunidade teria ocorrido em 2014.
Na sala de atendimento odontológico, o órgão observou que não havia material ou equipamento, apenas a cadeira do dentista. Diante da ausência de instrumentos para esterilização, os objetos utilizados em procedimentos eram colocados em água fervendo, em panela comum, para desinfecção.
Em nova visita realizada em 2017, o MPF identificou que a situação da saúde na comunidade permanecia a mesma. Sendo os moradores obrigados a buscar as unidades de saúde da sede do município para atendimento, contando com apenas cinco senhas destinadas ao grupo.
O MPF destaca, na ação, que “a carência de atenção primária representa afronta a diversos direitos inerentes ao mínimo existencial, à medida que o direito à saúde é pressuposto para acesso a inúmeros outros direitos fundamentais e deve ser prestado em sua integralidade, em todos os graus de complexidade que o Sistema Único de Saúde alcança, a fim de garantir vida digna à universalidade de indivíduos em solo nacional”.
Perante a Justiça, o MPF pede que a União e o Município de Guajará sejam obrigados, com base em medida liminar, a apresentar, no prazo de seis meses, um plano para a adequação do atendimento na atenção primária na localidade, garantindo a cobertura na área rural do município, com serviços que incluam atendimento das comunidades rurais de Guajará de forma frequente e razoável.
O plano deve conter informações sobre os veículos e insumos que servirão aos atendimentos e sobre as principais atividades preventivas e de acompanhamento que serão ofertadas.
A ação civil pública tramita na 3ª Vara Federal no Amazonas, sob o nº 1003319-64.2018.4.01.3200.

Recomendação em 2016

Em 2016, o MPF havia expedido recomendação ao município de Guajará para que garantisse o atendimento contínuo da área rural com saúde básica, e com apresentação de cronograma indicando os atendimentos que seriam realizados nas unidades de saúde instaladas em sua área rural.
Apesar de ter apresentado cronograma de visitas mensais, a prefeitura municipal de Guajará admitiu, em reunião realizada com o MPF em 2017, que o atendimento não foi realizado como planejado e as visitas à zona rural foram raras. Na mesma reunião, o MPF solicitou a apresentação de um novo cronograma de visitas, o que não foi cumprido, levando o órgão a ajuizar a ação civil pública perante a Justiça Federal.

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