É rara a coincidência de opiniões, nas ruas, nos gabinetes, em qualquer lugar, sobre o problema que estaria pronto para levar as maiores dores de cabeça ao futuro presidente, venha ele de que partido vier, independentemente de ascender contemplado com votação modesta ou consagradora. Se para muitos observadores o que deve prevalecer é a rigorosa caçada aos bandidos que assaltam os cofres públicos, na acuidade de outros o que urge promover é guerra sem trégua à violência urbana. Por fim, contam-se também os que interpretam como tão volumosas as dificuldades do momento, e estreitos os caminhos para superá-las, que não haveria como escalar prioridades.
Porém, se bem analisados os desafios que o aguardarão, desde o momento em que subir a rampa do Planalto, não falará espaço para o sucessor cuidar, em caráter emergencial, do Sistema Único de Saúde, que ganhou justificada fama de ser um dos melhores do mundo, mas acabou condenado a uma vastidão de dificuldades, resultado de várias gestões, das quais resultou a dolorosa realidade: nosso SUS, se originalmente foi modelo internacional, veio acumulando sérias deficiências nas três décadas de sua experiência nos serviços de saúde. Agora, com enfermidade agravada, se nada se fizer no mandato entrante, correrá o risco de internar-se em UTI.
A desejada solução, para que os segurados possam dispor de atendimento minimamente eficiente, começa exatamente com a caneta do novo presidente. Como? É determinar à União reassumir sua cota na manutenção do sistema, depois de o ônus federal ter sido paulatinamente transferido para os municípios. Esses pobres, que fazem o que podem para cobrir a relaxação e a incúria federal, mas nunca podendo investir o suficiente.
Para minimizar os efeitos da transferência dessa responsabilidade, o novo governo terá de pensar algo em torno de R$60 bilhões, ainda que hoje, em sã consciência, ninguém possa dizer de onde haverá de sair tal recurso. Mas o presidente que o Brasil conhecerá dentro de 42 ou 64 dias, terá de ser criativo. E ligeiro, porque os especialistas temem o caos no setor num prazo de menos de cinco anos; portanto, um desastre durante o mandato que vai começar.
Salvo dos sufocos imediatos, o SUS terá de ser reavaliado, a médio prazo, quanto à integralidade e a universalidade de seus compromissos com a sociedade brasileira, considerando-se que há lugares, em vários estados, em que a população ainda não pode se valer dos instrumentos para assistência que depende, por exemplo, de mamógrafos e radiológicos. Mas, num contraste horrível, da mesma forma como se observa a escassez de recursos, sobra o desperdício de consultas e exames desnecessários, problema que, parece, poderia ser reduzido com os prontuários eletrônicos. Pelo menos, é o que sugerem experientes servidores. A bem pensar, fica na conta do inadmissível que, em pleno século que cuida de vulgarizar a tecnologia, um sistema tão essencial não esteja totalmente informatizado. Retratam esse atraso as filas que madrugam nos postos de atendimento.
Colocadas tais dificuldades, chegado o momento de cobranças, o presidente certamente atribuirá as culpas à falta de recursos orçamentários para o Sistema, que neste ano orbitaram em cerca de R$ 130 bilhões. Já com a previsão do lamento, e com a certeza de que a saída está em alternativas, há sugestões que caberia examinar de imediato, como a isenção de impostos que incidem sobre equipamentos indispensáveis utilizados na rede previdenciária, além de maiores atenções para com as Misericórdias, que absorvem mais de 70% do segurados. E uma conversa séria com os Planos de Saúde, que apreciam transferir atendimentos para o magro e já exausto SUS.
Vejamos o que está para acontecer. E que seja o melhor possível.
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