quarta-feira, 11 de março de 2015

‘Soldados da borracha’ começam a ser indenizados, no Amazonas

Em torno de 1.917 ex-seringueiros recrutados durante a Segunda Guerra - e seus dependentes – serão beneficiados. No passado, atividade chegou a ser o carro-chefe da economia regional – foto: arquivo EM TEMPO
Em torno de 1.917 ex-seringueiros, além de seus dependentes, serão beneficiados. No passado, atividade chegou a ser o carro-chefe da economia regional.
Aproximadamente 1.917 ex-seringueiros e dependentes que foram recrutados durante a Segunda Guerra Mundial para extrair borracha no Amazonas receberão indenização no valor de R$ 25 mil até o fim do ano.
pagamento da reparação em cota única dos chamados ‘soldados da borracha’ é fruto de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB). As indenizações começaram a ser pagas no último dia 2.
Para o ex-soldado da borracha, Venceslau Ferreira da Silva, 95, um dos primeiros a ser beneficiado no Estado, o pagamento é um forma de justiça para os ex-seringueiros.
Ele conta que começou a trabalhar no seringal quando tinha sete anos de idade.Natural de Carauari (a 788 quilômetros de Manaus), trabalhou de 1927 a 1953 com a extração e produção de borracha no Seringal Concorde, no mesmo município.
Sua filha, Maria de Nazaré Ferreira da Silva, 57, revelou que, apesar da indenização ter demorado a sair, foi um prazer ver o pai com 95 anos recebendo o dinheiro referente ao seu trabalho sacrificado no período áureo da borracha no Amazonas.
“Meu pai saía às 5h para cortar seringueira e voltava às 14h para casa. Minha mãe também o ajudava. Enfrentavam matagal e animais como cobra e onça e agora tenho o prazer de ver os dois usufruir dessa indenização”, comentou.
Sandra Líbia da Cunha Barbosa, 62, filha do ex-soldado da borracha, Heitor Araújo Barbosa, já falecido, destacou que o pai veio do Ceará (CE) para trabalhar como seringueiro no interior de Maués (a 276 quilômetros da capital).
Segundo ela, ele trabalhou dos 12 anos aos 65 com borracha. Mesmo tendo documentos assinados pelo dono do seringal, ele não conseguiu ganhar nenhuma indenização em vida.
Autora da PEC da Borracha, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) considera a indenização é uma conquista histórica – foto: divulgação
Autora da PEC da Borracha, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) considera a indenização é uma conquista histórica.
Agora, Sandra espera que os dependentes do ex-soldado da borracha, Heitor Araújo Barbosa, consigam receber a indenização de R$ 25 mil, uma vez que é um direito dos ex-soldados e pensionistas.
“Meu pai faleceu no ano passado e não recebeu nada relacionado à borracha e olha que ele trabalhou quase até a morte com a produção de borracha. Como ele não está mais entre nós, o direito de receber esse benefício é dos seus filhos”, frisou.
Ao todo no Brasil, são 11.792 ex-soldados e pensionistas, sendo 5.243 ex-soldados da borracha e 6.549 dependentes. No total, o governo pagará R$ 294,8 milhões em indenizações.
Reconhecimento tardio
Autora da PEC que resultou na indenização de R$ 25 mil aos soldados da borracha que chegaram até 1934 à Amazônia, a senadora Vanessa Grazziotin informou, por meio da assessoria de imprensa, que o pagamento de indenização é uma conquista histórica.
Conforme ela, o fato entra para a história do país, pois é um reconhecimento da nação, “que indeniza, ainda que numa quantia muito menor que eles merecem, uma legião de brasileiros, a maioria de nordestinos, que contribuiu para o esforço de guerra contra o nazifacismo durante a Segunda Guerra Mundial”.
Na ocasião, eles forneciam o látex para os Estados Unidos produzirem a borracha para a fabricação de pneus de aviões e para tudo que o produto servia na indústria bélica.
A senadora enfatizou que esse é um reconhecimento da nação a “esses verdadeiros guerreiros, que deram a vida pelo país no esforço de guerra, convocados pelo governo brasileiro, e que agora poderão utilizar esse valor de alguma forma para melhorar as suas vidas”.
“Muitos deles morreram esperando esse benefício, outros nem acreditavam que um dia sairia, mas aqui estamos, com o valor sendo pago. É menor do que gostaríamos, claro, mas foi fruto de negociação, e apesar de ter demorado, o projeto foi aprovado e virou lei, Emenda à Constituição”, destacou Vanessa Grazziotin.

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